O presidente Michel Temer não joga para a plateia. Governa com foco
nas medidas que levam o País a retomar o caminho do desenvolvimento,
mesmo que o preço a pagar seja o baixo índice de popularidade. O aplauso
fácil dos eleitores não é, definitivamente, a preocupação de Temer. Em
lugar de pacotes de bondades, comuns na era petista, ele impôs uma
agenda de ajustes fiscais, reformas e modernização da economia. O que se
viu nos seus 19 meses de mandato foi a volta da racionalidade na gestão
pública. Além de cortar cargos e aprovar o teto dos gastos públicos
pelos próximos 20 anos, fez a reforma trabalhista, que modernizou as
relações de emprego, e está trabalhando para aprovar a reforma da
Previdência, para colocar as contas do governo no prumo. Embora tudo
isso tenha lhe custado baixos índices de aprovação, os avanços começam a
aparecer. São dados inegáveis, que aumentam os níveis de confiança de
empresários e consumidores.
Os resultados na economia são visíveis
e insofismáveis. A taxa de juros é a mais baixa da história, a inflação
em queda vertiginosa e o emprego em franca recuperação. Depois da forte
recessão deixada pelo governo de Dilma Rousseff, o PIB voltou a crescer
em 2017 e deve subir 3% este ano. Diante do comportamento altamente
favorável dos índices de preços, espera-se nova queda da taxa básica de
juros na próxima reunião do Copom do Banco Central marcada para o início
de fevereiro. A expectativa do mercado financeiro é que a diretoria do
BC faça um novo corte na taxa Selic, de 7% para 6,75% ao ano. Embora
cuidadoso, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, confirma o bom
momento e afasta temores com possíveis marolas do ano eleitoral. “A
inflação está bem comportada. Há possibilidade de redução dos juros.
Estamos entrando em um ano com bastante colchão, reservas de US$ 380
bilhões, 20% do PIB”, revelou.
Lua de mel
A
outra boa notícia vem do Produto Interno Brasileiro (PIB). O IBGE
corrigiu um erro de comunicação que vinha sendo cometido até agora e o
PIB deve fechar com crescimento em torno de 1% em 2017. Em 2018 os
números deve se acelerar. Segundo a pesquisa Focus, que o BC faz com as
principais instituições financeiras, a previsão de crescimento para o
corrente ano é de 2,7%, apesar de analistas do mercado já estimarem um
crescimento de 3%. A inflação estará sob controle e ficará em torno de
4%.
O mercado financeiro e o meio empresarial, de fato, vivem em
clima de lua de mel com o governo. Percebem os avanços na economia e
temem que haja uma reviravolta a partir do resultado das eleições para
presidente no dia 6 de outubro. A exemplo da base aliada de Temer,
acreditam que a queda nas taxas de desemprego será capaz de virar o jogo
na opinião pública. Do fim do governo Dilma para cá, o número de
desempregados caiu de 14 milhões para 12,7 milhões, segundo dados do
IBGE. No balanço que fez de seu governo em dezembro, o presidente Temer
confidenciou que foi procurado por um empresário do comércio que lhe
disse que em uma semana contratou 12 mil funcionários.
No café da
manhã com jornalistas no Palácio da Alvorada, Temer lembrou que a
retomada dos empregos já é um reflexo da reforma trabalhista. Vale
lembrar que o projeto oficial foi bastante criticado por centrais
sindicais e pelos partidos de oposição. Mesmo assim Temer não recuou. O
texto foi submetido a três comissões no Senado e o governo só perdeu na
Comissão de Assuntos Sociais, onde a oposição tem maioria. O PT ainda
fez de tudo para atrasar a votação no plenário, mas o projeto de lei
acabou aprovado. “Alardeou-se que o objetivo era tirar direitos. Não há
lei que tire os direitos dos trabalhadores, pois estão garantidos na
Constituição”, rebateu Temer.
Essa queda de braço entre o governo e
a oposição tem sido uma constante. Enquanto o PT e demais partidos de
esquerda insistem na retórica demagógica, o presidente Temer e sua
equipe mantém a cabeça fria e levam adiante as medidas de interesse
público, mesmo que mal assimiladas pela opinião pública. Tem-se repetido
o que aconteceu logo no primeiro embate, quando o Congresso discutiu a
PEC que limita os gastos públicos. A oposição liderada pelo PT usou a
tática do medo. Sob comando dos senadores Gleisi Hoffmann (PR) e
Lindbergh Farias (RJ), os petistas trombetearam que a PEC congelaria
recursos de setores importantes, como Educação e Saúde. Houve protestos
nas ruas de algumas capitais e até na Esplanada dos Ministérios. Mas não
foi suficiente para barrar a PEC, que serviu como cartão de visita de
Temer. A ordem de cortar gastos era para valer. O que teve reflexo
imediato no ânimo dos agentes econômicos.
Portanto, desde seus
primeiros passos, ficou claro que o compromisso é com a estabilidade da
economia e o equilíbrio das contas públicas. Ao dar adeus à gastança
inconsequente dos tempos petistas, o governo colheu frutos também na
gestão do Tesouro. Fechou o ano passado com um déficit de R$ 129
bilhões, ou R$ 30 bilhões inferior ao nível que a Fazenda havia previsto
(R$ 159 bilhões). O resultado foi atribuído à contenção de gastos e ao
aumento da arrecadação, gerado pelo aquecimento da atividade produtiva.
Com a casa em ordem, a confiança no País voltou a crescer. De acordo com
pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o meio
empresarial encerrou o ano disposto a investir. O Índice de Confiança do
Empresário Industrial (ICEI) alcançou 58,4 pontos entre novembro e
dezembro de 2017, no melhor nível desde novembro de 2012.
Temer no jogo?
Para
a confiança que a equipe do ministro da Fazenda Henrique Meirelles
conseguiu despertar no setor econômico, veio contribuir, já no fim do
ano, o saldo recorde da balança comercial de US$ 67 bilhões. Foi o maior
superávit desde o início da série histórica, em 1989. Ou seja, o rio
está caminhando para o mar. E Meirelles, que é pré-candidato à
Presidência, não esconde seu otimismo: “Entraremos em 2018 num ritmo
forte e constante. Continuaremos a trabalhar para garantir que essa
expansão seja longa e duradoura, gerando emprego e renda para os
brasileiros”. Os avanços na economia são tantos que levam Richard Back,
analista político da XP Investimentos, a afirmar quer Temer será o fiel
da balança nas eleições de outubro. “Temer é importante. Até mesmo
brincando que ele vai ser o Posto Ipiranga neste ano: todo mundo em
algum momento tem de passar lá para abastecer, mas ninguém tira foto e
posta na rede social. Muita gente pode querer evitar aparecer com Temer,
mas todo mundo terá que passar por ele”.
Na opinião de Back, se a
base governista caminhar junta dificilmente não ocupará uma das vagas
no segundo turno das eleições presidenciais. Diante das boas novas, o
próprio presidente Michel Temer já se dá ao luxo de fazer brincadeira
com seus baixos índices de popularidade. “Olha, o índice de aprovação do
meu governo praticamente dobrou: de 3% para 6%”, pilheriou ele no
Alvorada. E emendou: “Aproveitei minha impopularidade para fazer tudo o
que o Brasil precisava”. Sem dúvida. E o presidente pode colher o que
plantou. Embora improvável, já se fala em Brasília numa candidatura à
reeleição. A hipótese, antes remota, ganha até adeptos.
(Foto: Alan Santos/PR)
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